sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Calígula

Escrito e enviado por: Isadora Picarelli

Existem estudos sobre a história de Calígula que contradizem o que conhecemos sobre sua vida. Se pesquisarmos sua biografia encontraremos sobre um imperador romano que no seu reinado foi tirano, insano, cruel e depravado.

De acordo com Suetônio, que escreveu sobre Calígula no século II, ele era um imperador monstruoso. Foi este autor quem primeiro publicou que Calígula teria cometido incestos com suas três irmãs, além de as prostituir. Ele proporcionava banquetes e orgias e nesses eventos onde havia torturas e execuções de prisioneiros. Segundo Suetônio, “Quase não houve mulher, por menos ilustre que fosse, que ele não tivesse desrespeitado”. 

Além desses atos horrorosos, ele também era conhecido por se atribuir qualidades divinas, tinha uma estátua de si mesmo com feições divinas e até mesmo um templo. Outro acontecimento muito marcante em sua história foi quando nomeou seu cavalo Incitatus como um magistrado superior em Roma. Ele sentia prazer em humilhar, torturar e condenar a morte as pessoas. E um desses prazeres era obrigar os prisioneiros a lutar contra feras em arenas.

Mas, de acordo com vários estudos sobre a história deste imperador romano, muitos historiadores rejeitam a ideia que de Calígula aterrorizou Roma com desenfreada loucura e crueldade.

Ele assumiu como imperador aos 24 anos e seu nome real é Caio Júlio César Germânico. É conhecido por Calígula, pois quando era criança, se vestia de soldado e Calígula significa pequena bota. Ele reinou por apenas quatro anos Roma e aos 28 anos foi assassinado.

Seu pai foi o militar Germânico. Ele morreu quando Calígula tinha sete anos de idade. Havia rumores de que seu pai tinha sido envenenado por ordem do imperador Tibério. Sua mãe Agripina Maior e Nero Germânico (que foi acusado de colocar fogo em Roma) foram exilados e condenados por traição. Ambos morreram no exilio. 

Aos 18 anos, ele e suas irmãs foram morar com Tibério, o algoz de sua família. Lá, não recebeu treinamentos em administração, economia e militar. Mas, ao longo dos anos, agradou Tibério. Este antes de morrer indicou Gemelo, seu neto e Calígula a sucessão. 

Calígula vinha da linhagem direta dos Césares, pois sua mãe era neta de Otaviano. Ele, após a morte de Tibério nomeia Gemelo como seu herdeiro. Logo, ele conquistou o poder absoluto. Seu governo começou de forma promissora, mas após sete meses, o imperador sofreu uma doença séria, que culminou com as narrativas de loucura e perdição. Os sintomas incluem convulsões, fadiga e alterações de humor. Fala-se em epilepsia, sífilis ou intoxicação por chumbo (oriundo do tratamento das peles onde era guardado o vinho).

Além dos problemas físicos que podem ter causado instabilidade mental, Calígula durante seu reinado também teve problemas financeiros, devido aos seus gastos. Os senadores e demais políticos em Roma conspiraram contra o imperador, cansados dos arroubos e das suas tendências absolutistas. E como autoridade política, Calígula trabalhou, sobretudo para concentrar poder, confrontando o Senado e a aristocracia romana. Calígula e sua família foram assassinados como resultado deste conchavo.

Um novo imperador subiu ao posto, Cláudio. Este, com o intuito de acalmar os ânimos da população, que ao saber que o imperador estava morto, clamou por justiça. Cláudio iniciou uma campanha para destruir a reputação de Calígula. Segundo Anthony Barrett,

“Cláudio precisava condenar o assassinato de um imperador, senão estaria em risco, mas precisava justificar a morte de Calígula. Ao difamá-lo, ele afirma que o bom sistema imperial foi pervertido por um tirano”.

De acordo com recentes estudos, certas sutilezas políticas seriam o motivo da nomeação do cavalo Incitatus. Quando Calígula foi questionado de quem iria ser o próximo cônsul, ele respondeu de forma sarcástica que preferiria seu cavalo do que os candidatos para o posto disponíveis. 

E a respeito do vínculo amoroso com suas irmãs, isto também estaria equivocado. Calígula tinha uma relação próxima com elas, até mesmo havia moedas com suas irmãs gravadas nelas na época. Mas isto não significa que houvessem incestos e orgias.

Suetônio e Cássio Dio escreveram suas obras décadas após a morte de Calígula, portanto seus trabalhos foram baseados nas lendas a respeito do imperador. Suetônio escreveu “A vida dos Césars” em 121 a.C, 80 anos após o assassinato de Calígula. E Cássio Dio produziu suas obras quase 200 anos depois. Alguns textos escritos na época do imperador, como os de Sêneca e Philo, não fazem menções a respeito de comportamentos insanos do imperador.

Portanto, a história de Calígula foi totalmente deturpada ao longo dos séculos. Ela foi escrita pelos seus inimigos e registrada anos após sua morte. Cabe aos historiadores salvá-lo desta conspiração e mentira secular e assim, poder registrar sua trajetória e biografia na sua real versão.


REFERÊNCIAS

COHEN, Jennie. 7 Things You May Not Know About Caligula. In.: HISTORY. Disponível em: <http://www.history.com/news/history-lists/7-things-you-may-not-know-about-caligula>. (em inglês)
CHEROBINO, Vinícius. Calígula, o louco que foi sem nunca ter sido. Revista: Aventuras na História. Edição de junho de 2011.

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